Situação da epidemia de dengue no Brasil é bem pior do que informam os governantes.
Rio tem dez vezes mais casos de dengue que os confirmados, diz médico cubano - BOL Notícias
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Rio tem dez vezes mais casos de dengue que os confirmados, diz médico cubano - BOL Notícias
29/04/2008 - 21h07
Rio tem dez vezes mais casos de dengue que os confirmados, diz médico cubano
O Rio tem ao menos dez vezes mais pessoas infectadas pela dengue que os casos notificados, afirmou o médico cubano Eric Martínez Torres, membro da Academia de Ciências de Cuba e especialista em dengue, em visita ao Rio nesta terça-feira.
Na cidade à convite da prefeitura, Torres disse ainda que a capital fluminense passa pelo tipo de epidemia de dengue mais perigosa no mundo hoje e que falta ao Rio cultura e educação sanitárias para evitar novas epidemias. "É um trabalho de muitos anos. Precisa de um esforço conjunto, e não só do governo".
Em palestra a médicos da rede municipal de saúde do Rio, o cubano afirmou que o Rio enfrenta a situação mais temida em relação à dengue: a volta do tipo de vírus 2 quando uma parte da população já foi contaminada por um outro tipo --no caso do Rio, o 3-- mas ainda não está imune ao tipo 2.
Quando contaminada a um tipo de vírus, o paciente se torna imune a ele, porém mais suscetível se infectada com um outro tipo, segundo Torres. Além disso, o tipo 2 é um dos mais agressivos dos quatro tipos, afirmou. A última epidemia de dengue no Rio, em 2002, foi do tipo 3 da dengue e o que prevalece no surto deste ano é o tipo 2, que não aparecia desde 1990, segundo a Secretaria Municipal de Saúde do Rio. O quadro, para o médico cubano, explica a grande incidência de crianças com dengue neste ano no Rio.
"A maior parte das crianças internadas no Rio por dengue têm 6, 7, 8 anos. Eles já estavam nascidos em 2002, então muitas delas foram expostas ao tipo 3 mas não ao tipo 2. Por isso, temos uma boa parte da população carioca, com mais de 18 anos, com pouca possibilidade de ter dengue, porque já adquiriu imunidade ao tipo 2", discursou o médico cubano.
Ele expôs ainda estudos que indicam que, para cada pessoa com dengue, há dez que foram picadas pelo mosquito Aedes aegypti, transmissor da doença, mas não a desenvolveram. "Se no Rio tem 64 mil casos notificados [nesta noite, a Secretaria de Saúde confirmou 66 mil casos na cidade], então há cerca de 640 mil pessoas que foram infectadas", disse. Nesta terça-feira, Torres visitou o hospital Jesus, em Vila Isabel (zona norte), onde médicos da rede municipal recebem treinamento para tratar pacientes com dengue e, na quarta-feira, tem visitas agendadas a postos de saúde da prefeitura.
O médico disse concordar com o ministro José Gomes Temporão (Saúde), que apontou falhas no atendimento primário (feito nos postos municipais) da prefeitura do Rio como um dos principais motivos do grande número de mortes por dengue este ano no Rio --até o fim da tarde terça-feira, eram 58 mortes confirmadas na cidade e 95 no Estado do Rio. "Estou de acordo que a atenção primária é a melhor solução [contra a dengue]".
A vinda do vírus tipo 4 ao Brasil --o único ainda não oficialmente registrado no país-- também é inevitável, na avaliação do cubano. "Os quatro tipos de dengue já circulam nas Américas, então é mais inteligente se preparar para o vírus 4 no Brasil", disse.
Torres ficará no Rio até sexta-feira (2), segundo a Secretaria Municipal de Saúde do Rio.
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