MÉDICO ENUMERA ALGUMAS RAZÕES DO FRACASSO PREVISÍVEL DAS FUNDAÇÕES PÚBLICAS DE DIREITO PRIVADO NA SAÚDE.
MÉDICO HABITUADO À GESTÃO DE SERVIÇOS DE SAÚDE EXPLICA AS RAZÕES DO PREVISÍVEL FRACASSO DAS FUNDAÇÕES PUBLICAS DE DIREITO PRIVADO.
A fonte é um profissional pernambucano, estado onde o Governador quer assumir o modelo sugerido pelo Ministro Temporão e seus sanitaristas e adotado pelo Sérgio Cabral e seu desgoverno no Rio. O comentário nos ajuda a compreender que essa idéia de fundações é, na verdade, um factóide. Foge ao âmbito das propostas sérias. Duvidar da capacidade do serviço público para gerir assuntos tão importantes como a vida humana, poderia fazer supor que fundações privadas de direito público poderiam cuidar dos tributos federais, do Banco Central, da Polícia Federal, do Ministério Público ou da aplicação da Justiça. Se esse entendimento fosse completo e abrangente sobre todo o serviço público ele poderia ser visto como uma proposta consistente. Mas, quando aplicado só a um setor do serviço público, esconde um preconceito contra os trabalhadores públicos da saúde, em especial os médicos, que, infelizmente se arraigou em segmentos da própria comunidade médica.
A notícia está no blog do Jornal do Comércio (blog do Jamildo) http://jc.uol.com.br/blogs/blogjamildo/canais/noticias/2008/08/29/sob_anonimato_medico_revela_drama_da_gestao_hospitalar_24726.php
Caos na saúde
Sob anonimato, médico revela drama da gestão hospitalar
POSTADO ÀS 21:06 EM 29 DE Agosto DE 2008
Caro Jamildo,
Sou médico e vejo com temor essa novo sistema de fundação proposto pelo governador de Pernambuco.
Não sou contra o tipo de gestão, pois sempre me considerei um liberal, mas algumas características próprias desse tipo de gestão para a saúde tem de ser informadas.
1o ponto: A tabela SUS não é reajustada há anos. O que isso implica?
Deixa eu dar um exemplo prático do HEMOPE. Há 10 anos eles compravam um quimioterápico no mercado por R$ 200 e SUS repassava R$ 250 (excesso esse que ia para custos de material humano, injeção, etc.). Hoje a verba para esse mesmo quimioterápico é de R$ 250, mas o mesmo custa R$ 600 no mercado. A conta nâo fecha há anos.
2o ponto: Os truques usados pelos hospitais conveniados ao SUS. Além da tabela não corrigida, o valor pago é o valor da admissão do paciente, independente do que ocorrer depois exceto se for para outro setor. Exemplo, um paciente interna por uma infecção urinária. Mas no segundo dia pega uma pneumonia. O SUS só paga o referente à admissão, que é a infecção urinária, o que cobre cerca de 3 dias de internamento.
O que faz o hospital então? Embora tenha capacidade para resolver o problema, como não será pago por isso, transfere o paciente para outra unidade como Restauração, Getúlio Vargas, etc. O que inclusive contribui com o caos nas emergências.
3o ponto: Dinâmica de funcionamento dos hospitais do estado. Até o ano passado, uma famosa fundação de sáúde do estado conveniada ao SUS tinha um andar com a seguinte disposição: leitos de cirurgia de um lado; leitos de clínica médica do outro e uma UTI no meio. Os pacientes cirúrgicos quando necessário tinham acesso à UTI. Os clínicos não. Por que? Porque o paciente clínico fica mais tempo e dá prejuízo. Assim esses pacientes clínicos quando necessitavam eram transferidos às UTIs do estado (Getúlio Vargas, Barão de Lucena, Restauração …), que fica, mais uma vez, com o “prejuízo”.
4o ponto: Recursos humanos do setor público mal gerenciados. Há realmente médicos desviados de função e que cumprem pouco da carga horária que deveriam (como acontece aliás, infelizmente, em todas as áreas do serviço público). No entanto, esse que estão revoltados com a situação e, por conseguinte, com o governo são os não acomodados, são os que trabalham, são os que não têm influência … e são eles que são mal tratados pelo governo. Enquanto aqueles que parasitam o estado não brigam e não trabalham …
Assim, qual o resultado da fundação para os hospitais do estado?
Não conseguirão dar lucro prestando um serviço adequado devido à tabela SUS; não terão para onde encaminhar os pacientes que “dão prejuízo”; terão que fazer cortes em outras áreas já muito cortadas; irão faltar medicamentos e se acumular dívidas … e daqui a 10 anos, com os hospitais
ainda mais quebrados que hoje em dia, serão re-admitidos pelo Estado.
Não há solução fácil. Mas com certeza a solução não é com a imposição.
Um médico que pede para não ter o nome publicado
Publicado em: Hospital SUS médicos on 30 -Agosto- 2008 at 10:44 pm
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