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MÁ REMUNERAÇÃO E CONDIÇÕES DE TRABALHO PRECÁRIAS LEVAM MÉDICOS AO DESÂNIMO E CAUSA DECADÊNCIA DA ASSISTÊNCIA MÉDICA AOS BRASILEIROS.

Dengue hemorrágica. Crianças morrem no Rio de Janeiro. Tuberculose. Mães acorrentam filhas porque são dependentes químicas e não têm acesso ao tratamento. Planos de saúde: médicos diminuem tempo de atendimento para aumentar número de atendimentos e tentar obter um rendimento decente. No serviço público muitos profissionais pedem demissão. A matéria abaixo, publicada já ha' algum tempo, mostra as causa do desânimo e sugerem suas consequencias terríveis.


Governantes, economistas e legisladores podem usar essas notas para reflexões sobre esse problema cruel e desumano que aflige profissionais que lidam com a vida, sabidamente um bem precioso.


VEJA on-line


Medicina
Radiografia do desânimo


Pesquisa do Conselho Federal de Medicina
traça o perfil dos médicos brasileiros



Paula Neiva


  Roberto Loffel


Acaba de ser concluída a maior pesquisa já feita sobre o perfil dos médicos brasileiros. O estudo, patrocinado pelo Conselho Federal de Medicina, entrevistou mais de 14.000 médicos de todo o Brasil e pinta um quadro nada róseo. Eles estão pessimistas quanto ao seu futuro e avaliam a atividade como desgastante e mal remunerada. Não é conversa de eterno insatisfeito. Na comparação com uma primeira pesquisa realizada em 1996, fica evidente a erosão sofrida pelos médicos. Apenas 8,5% dos entrevistados têm salário acima de 12.000 reais por mês. No estudo anterior, esse grupo representava quase 20% do total. Atualmente, mais da metade dos médicos tem renda inferior a 6.000 reais mensais – o mesmo que ganha um gerente de loja de grife.


Quase metade dos médicos atende por planos de saúde. Por consulta, eles ganham cerca de 25 reais, valor que há sete anos não tem reajuste. Para conseguir uma remuneração melhor, um médico tem de esticar a jornada de trabalho e se desdobrar em vários empregos. Em média, um médico trabalha setenta horas por semana. Muitas vezes, fazem plantões que ultrapassam 24 horas. A situação é tão crítica que já se observa um fenômeno inédito nas salas de emergência. Para complementar a renda, os mais velhos vêem-se obrigados a voltar à dura rotina dos plantões – atividade típica de quem se encontra em início de carreira. "Um aspecto preocupante é que, como tem de trabalhar além da conta, o profissional reduz o tempo destinado à atualização. O resultado é a piora da qualidade dos atendimentos", diz o médico Mauro Brandão, do Conselho Federal de Medicina.


Com essa proletarização, é natural que cresça a opção por especialidades mais rentáveis. Atualmente, as três que mais atraem os médicos são a cardiologia, a clínica médica e a pediatria. Na pesquisa de 1996, oftalmologia e ortopedia figuravam entre as dez mais procuradas. Perderam lugar para dermatologia e urologia. A valorização mercadológica das duas áreas tem motivos claros. Os dermatologistas agora executam inúmeros procedimentos estéticos. Quanto aos urologistas, eles passaram a atender mais pacientes depois do advento dos novos remédios contra a impotência.


Mesmo com tantas adversidades, 65% dos médicos afirmam estar satisfeitos com a profissão. A porcentagem dos formados que não a exercem é ínfima: menor que 2%. Ou seja, a vocação e a abnegação continuam a movê-los, assim como nos tempos do grego Hipócrates, considerado o pai da medicina. A profissão mantém, ainda, uma aura de status, juntamente com a de advogado e a de engenheiro. Tudo somado, está explicado por que os vestibulares para os cursos de medicina são disputadíssimos. Nas melhores faculdades, o número de candidatos por vaga pode chegar a 125. Há uma idéia razoavelmente difundida de que a saída para os médicos brasileiros é abdicar dos grandes centros e partir para o interior. Como todo lugar-comum, há um pouco de verdade e muito de fantasia nisso. Algumas cidades interioranas realmente oferecem boas condições de trabalho. Mas, no geral, o panorama é desolador. O Brasil é um país que não cresce – e essa é uma doença que, infelizmente, nenhum médico pode curar.



Muito trabalho, pouco dinheiro


• 70% dos médicos brasileiros são homens  


• 65% têm menos de 45 anos  


• 90% definem a profissão como desgastante  


• 56% têm três ou mais empregos  


• 43% dão plantões semanais de 12 a 48 horas  


• 49% estão vinculados a planos de saúde, que pagam, em média, 25 reais por consulta


• 52% ganham menos de 6 000 reais mensais  


• 8,5% recebem mais de 12 000 reais por mês



Fonte: Conselho Federal de Medicina


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