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FALTA DE MOTIVAÇÃO LEVA ATENDIMENTO EM PEDIATRIA À BEIRA DO COLAPSO EM BH

O número de pediatras tem diminuído e o interesse pela especialidade tem caído entre os jovens médicos. Salários ruins e condições inadequadas de trabalho, mais uma vez, estão na raiz de mais essa crise na Saúde brasileira.


.:: O TEMPO ::.

Escasso. Muitos profissionais estão abandonando a especialidade e estudantes buscam outras residências
Atendimento em pediatria está à beira de um colapso

Na UFMG, procura pela especialidade caiu de 20% para 5% em 15 anos

EUGÊNIO MARTINS


O atendimento pediátrico em Minas está operando no limite e caminha para o risco de um colapso. De acordo com a Sociedade Mineira de Pediatria, o número de médicos pediatras vem diminuindo nos hospitais públicos, privados e nas universidades.

Dados da entidade mostram que Belo Horizonte possui cerca de 1.800 pediatras e Minas pouco mais de 4.000. Desses, pelo menos 500 já desistiram de atuar no ramo e mudaram de especialidade.

Além disso, o número de profissionais que chega ao mercado de trabalho é cada vez menor. Nas faculdades de medicina, a falta de interesse por residência em pediatria é sentida de forma crescente. Na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), por exemplo, há cerca de 15 anos 20% dos alunos do curso de medicina optavam pela especialidade de pediatria. Hoje, esse índice gira em torno de 5%.

O professor titular de pediatria da Faculdade de Ciências Médicas, Narlantino Alves Filho, informa que na instituição o índice também caiu de 10% a 12% para 2%, também nos últimos 15 anos. "Neste ano, tivemos que receber gente de outros Estados para preencher as vagas na residência", disse.

Segundo ele, um dos motivos que levam os pediatras a desistir é a remuneração mais baixa. O Sistema Único de Saúde paga cerca de R$ 7 por consulta e um plano de saúde R$ 30, incluindo os retornos. "O problema é que um terço das crianças volta ao consultório até quatro vezes no mesmo mês por problemas diferentes."

O professor Lincoln Marcelo Freire, do departamento de pediatria da UFMG, afirma que, além da diminuição no número de estudantes, a faculdade nota um aumento no número de formados que procuram especialização em outras áreas para conseguir maior remuneração. Para ele, há a necessidade de aumentar o investimento governamental na atenção primária, onde estão cerca de 80% dos pediatras.

Hospitais. Nos últimos seis anos, 16 hospitais particulares da Grande Belo Horizonte fecharam o setor de pediatria. "As instituições desativaram o serviço porque não era rentável", afirma o diretor da Sociedade Mineira de Pediatria, Mário Lavaroto da Rocha.

Segundo o diretor do Sindicato dos Médicos de Minas Gerais, Fernando Mendonça, com a implantação do Programa Saúde da Família na rede pública, os postos de trabalho para pediatras foram reduzidos nos centros de saúde e hoje praticamente se restringem às unidades de emergência.

Um médico da rede pública chega a receber pouco mais de R$ 1.200. Nesta época do ano, a demanda aumenta cerca de 30%, devido a doenças respiratórias. "Os pediatras chegam a fazer mais de 50 atendimentos em um plantão e enfrentam dificuldades quando têm que encaminhar a criança para internação", afirma.

A Secretaria de Saúde da capital admite dificuldades para preencher vagas nas Unidades de Pronto-Atendimento (UPAs). "Alguns médicos convocados não assumem. Outros não se estabilizam no cargo", afirma a gerente de assistência básica da secretaria, Sônia Gesteira.
O que leva à diminuição da pediatria Salários
O pediatra depende só da consulta para ter renda. Outros especialistas também fazem procedimentos, como cirurgias e exames.
Um clínico infantil chega a receber dez vezes menos que em outras áreas da medicina.
Condições de trabalho
Sobrecarga de pacientes, perda de postos de
trabalho, violência na rede pública, alto custo de se manter um consultório e instabilidade no vínculo empregatício são problemas apontados







Espera
Urgência sofre conseqüências


O primeiro reflexo da falta de pediatras é o maior tempo de espera por atendimento nos postos e nos pronto-atendimentos da capital. Na UPA da Regional Nordeste, no bairro Nova Floresta, o motorista Marcelo Augusto, 25, e a mulher Cintia Aparecida, 22, aguardavam, na semana passada, por uma consulta pediátrica para os dois filhos, de 5 e 2 anos, com diarréia. No local, dois pediatras dividiam o plantão. Eles saíram do bairro Belmonte porque não conseguiram atendimento devido ao grande número de pacientes no posto de saúde, que possui apenas um pediatra.

No Centro Geral de Pediatria (CGP), a auxiliar de serviços gerais Geralda Costa, 24, moradora de Esmeraldas, esperava há cerca de duas horas pelo atendimento da filha de 4 anos. "Na minha cidade tem só um pediatra e demora muito para ser atendida", explicou.

O problema de sobrecarga no atendimento não é exclusividade do setor público. O diretor do Hospital Infantil São Camilo, José Guerra, afirma que o hospital só é mantido graças a um esforço que ultrapassa os limites dos 45 médicos que trabalham na instituição. "Todos têm de dobrar o horário de plantão e há dificuldades para encontrarmos médicos plantonistas." Ele explica que o serviço de pediatria não é rentável, principalmente na internação. "Não sabemos até quando vamos conseguir manter o hospital aberto", afirma.

Demanda. A artesã Roberta Cristina Rocha, 38, que antes ia ao SUS, agora paga plano de saúde para a filha de 5 meses, mas, por causa da grande demanda e poucos profissionais, continua tendo que aguardar na fila do hospital particular. "No SUS eu chegava às 11h e minha filha só era atendida às 20h. Aqui demora cerca de uma hora e meia, mas sou bem atendida", afirma.

A auxiliar administrativa Sirlene Campolina, 25, também aguardava há quase duas horas por atendimento no hospital particular. "O problema é em todo lugar. São poucos pediatras para muita criança." (EM)


Publicado em: 27/04/2008

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