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A farsa e a tragédia de uma nova Juiz de Fora
A política, esse exercício surrado, odiado pelos pós-modernos e até mesmo por alguns doutos próceres, faz água fora da bacia em tempos de domínio publicitário. Basta ver que tradicionais - e até novos atores - lançam mão desses artifício, para construir candidaturas e para governar.
O slogan publicitário quer substituir o accountability, ou para dizer em bom português, trocar a imagem construída pela real interação cotidiana, que deveria ser obrigação de quem governa ou legisla.
Um dos exemplos mais claros deste pastiche é a "Nova Juiz de Fora". Oficialmente, "Nova Juiz de Fora" é um programa, mas na prática é a marca do governo, que espalha para todos os lados esse logotipo azulado, limpinho, de letras arredondadas e modernosas.
Porém, diante a vasta sapiência popular, o slogan tem virado trocadilho para as contradições claras e aparentes, assim como para os erros e deficiências da administração pública da cidade.
Resgatando a estratégia conservadora de que um bom governo é aquele que faz obras grandiosas, a aposta da prefeitura é produzir feitos que possam facilmente ser traduzidos em propaganda. Nada é mais belo que um trator ou um rolo compressor passando sobre o asfalto, tendo como fundo um céu azul, na perspectiva de uma boa câmera. nada pode ser mais emocionante do que mostrar a cena do povo aglomerado para o "sorteio de casas populares", explorando ao máximo a felicidade de gente humilde que realiza o sonho da casa própria.
Mas não devo aqui reduzir a importância do asfalto ou mesmo de programas habitacionais, tendo em vista que vivemos um período histórico onde as prefeituras podem receber esse tipo de recurso do governo federal em abundância. Em alguns casos, esses programas chegam na cidade com outros nomes, como no caso do "Minha casa, minha vida". Seria apenas um jogo de esperteza se não configurasse um péssimo exemplo de atitude anti-republicana.
Mas se governar é definir prioridades, definir prioridades é algo que se faz em conjunto. Nosso prefeito que alardeava em campanha querer "radicalizar a democracia" na cidade, parece ter esquecido desse compromisso, grafado em seu belo livreto de papel cheiroso, denominado "programa de governo" e distribuído pela cidade durante a campanha.
Não se espera do alcaide a milagrosa redenção da cidade, como em um passe de mágica. Mas é sua obrigação o exercício pleno da capacidade de liderança pela busca de sua superação. Infelizmente o prefeito só deu as caras na campanha da dengue. Mediante os problemas graves da saúde e da educação, em momento nenhum a face do chefe do executivo apareceu como líder de uma equipe pronta a buscar soluções, mobilizar a sociedade e recursos capazes de apontar soluções.
Enquanto o asfalto passa, a cidade perde seus espaços de participação, seu caráter de efervescência política e cultural que a marcaram desde os tempos das lutas republicanas. Enquanto se reformam canteiros, a cidade vive uma onda de violência urbana sem precedentes, que atinge principalmente a população jovem e pobre.
Mas melhorar a condição de vida de jovens pobres, dar melhores condições de trabalho e recursos para a prestação de serviços públicos, negociar salários dignos para professores e médicos, nada disso - nem hoje nem amanhã - podem gerar belos filminhos publicitários.
Tiago Rattes de Andrade
A farsa e a tragédia de uma nova Juiz de Fora
A política, esse exercício surrado, odiado pelos pós-modernos e até mesmo por alguns doutos próceres, faz água fora da bacia em tempos de domínio publicitário. Basta ver que tradicionais - e até novos atores - lançam mão desses artifício, para construir candidaturas e para governar.
O slogan publicitário quer substituir o accountability, ou para dizer em bom português, trocar a imagem construída pela real interação cotidiana, que deveria ser obrigação de quem governa ou legisla.
Um dos exemplos mais claros deste pastiche é a "Nova Juiz de Fora". Oficialmente, "Nova Juiz de Fora" é um programa, mas na prática é a marca do governo, que espalha para todos os lados esse logotipo azulado, limpinho, de letras arredondadas e modernosas.
Porém, diante a vasta sapiência popular, o slogan tem virado trocadilho para as contradições claras e aparentes, assim como para os erros e deficiências da administração pública da cidade.
Resgatando a estratégia conservadora de que um bom governo é aquele que faz obras grandiosas, a aposta da prefeitura é produzir feitos que possam facilmente ser traduzidos em propaganda. Nada é mais belo que um trator ou um rolo compressor passando sobre o asfalto, tendo como fundo um céu azul, na perspectiva de uma boa câmera. nada pode ser mais emocionante do que mostrar a cena do povo aglomerado para o "sorteio de casas populares", explorando ao máximo a felicidade de gente humilde que realiza o sonho da casa própria.
Mas não devo aqui reduzir a importância do asfalto ou mesmo de programas habitacionais, tendo em vista que vivemos um período histórico onde as prefeituras podem receber esse tipo de recurso do governo federal em abundância. Em alguns casos, esses programas chegam na cidade com outros nomes, como no caso do "Minha casa, minha vida". Seria apenas um jogo de esperteza se não configurasse um péssimo exemplo de atitude anti-republicana.
Mas se governar é definir prioridades, definir prioridades é algo que se faz em conjunto. Nosso prefeito que alardeava em campanha querer "radicalizar a democracia" na cidade, parece ter esquecido desse compromisso, grafado em seu belo livreto de papel cheiroso, denominado "programa de governo" e distribuído pela cidade durante a campanha.
Não se espera do alcaide a milagrosa redenção da cidade, como em um passe de mágica. Mas é sua obrigação o exercício pleno da capacidade de liderança pela busca de sua superação. Infelizmente o prefeito só deu as caras na campanha da dengue. Mediante os problemas graves da saúde e da educação, em momento nenhum a face do chefe do executivo apareceu como líder de uma equipe pronta a buscar soluções, mobilizar a sociedade e recursos capazes de apontar soluções.
Enquanto o asfalto passa, a cidade perde seus espaços de participação, seu caráter de efervescência política e cultural que a marcaram desde os tempos das lutas republicanas. Enquanto se reformam canteiros, a cidade vive uma onda de violência urbana sem precedentes, que atinge principalmente a população jovem e pobre.
Mas melhorar a condição de vida de jovens pobres, dar melhores condições de trabalho e recursos para a prestação de serviços públicos, negociar salários dignos para professores e médicos, nada disso - nem hoje nem amanhã - podem gerar belos filminhos publicitários.
Tiago Rattes de Andrade
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