-Quando o Congresso discute e aprova um projeto para suceder o programa Mais Médicos, é tempo de puxar pela memória e fazer uma revisão das relações entre o governo e os médicos. Seria recomendada que houvesse uma relação simbiótica, já que o SUS precisa de médicos, e continuará precisando e os médicos precisam de trabalho, para cumprir sua missão benemérita junto à esmagadora maioria da população. Mas essa relação tem sido conturbada, cheia de zonas de atrito, frustrações e ruídos que têm transbordado para o campo político.
-Muitos médicos brasileiros se sentiram desconfortáveis e manifestaram sua contrariedade com a introdução do programa Mais Médicos no governo Dilma.
Um dos alvos dessa indignação era a participação dos médicos cubanos na atenção primária pública. O programa era focado numa terceirização intermediada pela OPAS e os médicos cubanos não recebiam a integralidade do salário, que era remetido, em parte, ao governo cubano. Na ocasião a bandeira das entidades representativas dos médicos era a carreira de estado,acedida por concurso público e com remuneração compatível, ficando o profissional, em regime de dedicação exclusiva, sujeito a transferência ou designação para onde quer que você. O exemplo vinha da carreira da Magistratura e do Ministério Público, sólidas e bem remuneradas.
-O ano de 2012 terminou com três grandes expectativas das entidades representativas dos médicos: (1) Carreira de Estado,(2) Piso salarial nacional, como já havia sido implantado para os professores, (3) ato médico, definindo os limites do exercício legal da Medicina.
Em 2013 não houve carreira de estado, não houve 'ato médico',não houve piso e vieram os médicos cubanos. Foi grande a contrariedade dos médicos brasileiros com a ex-presidente Dilma.
-Os médicos cubanos não se saíram mal no cumprimento de sua missão. Atenderam em áreas que nunca tinham antes fixado médicos e, apesar da má vontade dos colegas brasileiros em relação a eles e das fake news, estabeleceram vínculos saudáveis com a população assistida por eles e atenderam satisfatoriamente a demanda da atenção primária.
Mas ficou a frustração da classe médica. Não só suas demandas não foram contempladas, mas o Mais Médicos caiu como uma imposição, sem senões, sem transições, implacavelmente.
-2013 foi o ano das primeiras mobilizações de rua. Desencadeadas por aumento do transporte público em São Paulo, estenderam-se por todo o país, sem bandeira, sem pauta, sem líderes. Era uma expressão de desconforto de multidões. E os médicos também estavam desconfortáveis com o tratamento dispensado pelo governo. A história seguiu. Como sempre.
-O descontentamento generalizado da classe médica com o governo Dilma arrastou centenas de milhares de médicos, pessoas qualificadas e com capilaridade e boa inserção social, ao campo do antipetismo. Isso iria ter consequências políticas. E teve.
-Hoje está aí o Médicos pelo Brasil, implantado no atual governo como sucessor do Mais Médicos.
Governo, ministro da Saúde, todos tiveram que se curvar à realpolitik. A MP perdendo a validade, nesse final de novembro de 2019 a lei será sancionada pelo presidente ou tudo irá água abaixo.
E assim ficou:
1- Os médicos cubanos que ainda estão no Brasil serão novamente bolsistas do médicos pelo Brasil.
2- Revalida será de seis em seis meses.
3- Revalida será aplicado por faculdades públicas e privadas.
4- Médicos brasileiros formados na Bolívia e Paraguai serão admitidos.
5- A gestão do Mais Médicos será feita por uma agência governamental "sem fins lucrativos", e seus integrantes serão nomeados sem necessidade de concurso.
-É de se imaginar que esse resultado não tenha agradado a muitos descontentes de 2013, especialmente aos que levaram seu descontentamento ao extremo de votar no sr. Jair Messias Bolsonaro.
Referência:
https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2019/11/27/com-cubanos-senado-aprova-versao-de-bolsonaro-para-o-mais-medicos
COOPERATIVAS DE TRABALHO E DONOS DE HOSPITAIS QUEREM FLEXIBILIZAR DIREITOS DO TRABALHADORES E TIRAR AO MÉDICO O DIREITO DA CARTEIRA ASSINADA. PROJETO DO TUCANO MINEIRO JOSÉ RAFAEL GUERRA ATACA OS DIREITOS DE OUTRAS CATEGORIAS NA ÁREA DA SAÚDE. A crise econômica americana foi a queda do muro de Berlim do neoliberalismo. Mas algumas idéias neoliberais, sobreviventes da era FHC, persistem em insistir. Uma delas é a flexibilização dos direitos do trabalhador, tão duramente conquistados. (Esta matéria está em http://faxsindical.wordpress.com/2008/09/30/cooperativas-e-hospitais-querem-abolir-direitos-trabalhistas/#more-760 ). O médico não pode fazer plantões, trabalhar 24 horas ou mais em um hospital, sem ter um vínculo empregatício com a empresa que necessita de seus serviços. Essa situação, levaria à terceirização e acabaria prejudicando outras categorias profissionais, para as quais os donos dos negócios sentiriam mais à vontade para recorrer ao expediente da terceirização indevida. Es...
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