Teve repercussão na imprensa brasileira a divulgação de estudos realizados pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) que apontam que 455 municípios brasileiros não têm nem mesmo um médico. Dependem de vans, ambulâncias e gasolina para garantir alguma assistência médica aos seus habitantes. A incapacidade de gerar uma política de recursos humanos que seja capaz de atrair e fixar médicos no serviço público têm sido um erro contumaz de nossos gestores, nas três esferas de governo. Seus resultados, em políticas públicas voltadas para a saúde, ficam cada vez mais evidentes e são cada vez mais divulgados.
O Programa de Saúde da Família, elaborado como uma alternativa às carências da atenção básica, acabou por ficar ineficaz nesses casos. Faltou uma política decente de recursos humanos para o PSF. Os seus idealizadores insistiram em fincar as bases do programa e suas estratégias em cima da base movediça das contratações precárias, das terceirizações, dos convênios, das ongs. O resultado não tem sido muito animador. Entendemos que essas políticas e ''estratégias'' foram desenhadas na era FHC, onde sobre o influxo das idéias neoliberais, toda administração pública, inclusive a Saúde, foi perpassada por esse aventureirismo administrativo. Ao lado disso, a má-fé de alguns, que viram nessas situações precárias de contratação de pessoal os descaminhos próprios para o dinheiro público.
Sobre a incapacidade dessas políticas precárias, incapazes de prover cargos, carreiras e salários que atraiam e fixem o médico no serviço público, existe matéria no link http://tinyurl.com/5lyf6b
Recentemente houve reunião do Ministro da Saúde, José Gomes Temporão e dirigentes sindicais médicos, acompanhados de diretores do CFM e da AMB. O objetivo seria a construção de um plano de cargos, carreira e remuneração para os médicos do serviço público que atendesse a esses municípios menores e distantes, que estão com a atenção pública à Saúde incompleta pela falta de médicos. Artigo a esse respeito pode ser conferido em http://tinyurl.com/55v4uw
Ninguém pode acusar a tecnoburocracia do Ministério da Saúde de favorecer os médicos. Isso nunca pode ser comprovado por qualquer idéia urdida naqueles gabinetes, ao menos as que tratassem de cargos, carreiras e salários. Mas essa constatação histórica tem sua rigidez diminuída recentemente pelo peso de uma cruel necessidade.
Milhões de brasileiros têm que se deslocar centenas de quilômetros para ver um médico. Faltam médicos no Brasil? Não. O Brasil tem hoje 1,15 médicos por mil habitantes, pouco acima do mínimo aceito pela Organização Mundial de Saúde (1 por mil). Faltam e continuarão faltando médicos no serviço público. E a grande maioria da população brasileira depende do Governo, via serviços públicos de saúde, para ter acesso a algum tipo de atendimento. Essa é a verdade, o valor mais alto que se alevanta, impondo-se a ressentimentos e pensamentos mesquinhos que inspiram pequenas objeções à participação do médico no serviço público, para exigir do Poder Executivo uma atitude mais séria e responsável diante da questão da assistência médica.
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