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A antipolítica é uma forma de alienação que leva o sujeito a agir e falar contra seus próprios interesses

É comum, mesmo entre aspirantes a cargos públicos, perceber o que podemos chamar de atitude antipolítica. Essa atitude é, resumidamente, um conjunto de declarações de recusa à política, o que torna muito estranho ouvir políticos e aspirantes a cargos públicos. Cá nos rincões da periferia da Terra, nessas terras que outrora chamavam de terceiro mundo, o comum da argumentação antipolítica, venha de pessoas com pouca instrução, autoridades judiciárias ou candidatos, é dizer que todo político é corrupto e que a própria política é corrupta. Em outros lugares, onde há mais democracia e transparência - lá nos países mais adiantados - é comum essa negação da política ser elaborada em termos mais sofisticados, desde teorias conspiratórias até o apelo à inutilidade da política na transformação das nações. 


Não é difícil identificar as declarações antipolíticas, por mais contraditórias que sejam ou pareçam, inclusive quando partem de políticos que aspiram novos cargos públicos. No Brasil um exemplo clássico é Bolsonaro, que viveu trinta anos da política e quando quis ser presidente da república era o portador da “nova” política e o homem que dizia que tem que “mudar tudo isso aí” e nada mudou. Sem dúvida, alguma coisa Bolsonaro aprendeu em seus trinta anos de política, por menos que tenha feito nada em prol de ninguém (além de sua própria família). 


O fato é que a política continua e continuará a existir, mesmo quando muitos se alienam dela. Já foi dito que se você não se ocupa da política ela se ocupará de você. Política existirá e sempre estará, sob diferentes formas e grandezas, em toda a parte. Nas alianças e disputas em igrejas, no âmbito de famílias, nos prédios residenciais, nos locais de trabalho. Em situações política que sempre levam a pessoa a fazer escolhas políticas. Ela está presente, mesmo que não seja visível. A alienação de alguém da atividade política, nunca foi uma solução para problemas comuns a toda uma sociedade. 


A deslegitimação da política é a consequência mais lógica da antipolítica. E, o Brasil, nesses tempos é um campo ideal para quem deseja pesquisar esse fenômeno. Ele começou a ser construído por uma narrativa construída por burocratas do ministério público e do judiciário e resultou em condenações de figuras do mundo da política. Essa narrativa teve grande repercussão na mídia e essa repercussão foi amplificada por linchamentos morais nas redes sociais. Tudo isso entre 2014 e 2018. O resultado óbvio (não o único, mas o principal deles) foi um fato político, a eleição de Bolsonaro. 


O resultado dessa deslegitimação da política, já o percebíamos antes, nas manifestações de 2013, e ainda o percebemos, são a falta de capacidade de construir pautas, agendas, mesas de negociações, de ter referências e ligações, de todos os movimentos reivindicatórios classistas ou políticos que apareceram recentemente. Sem sindicato, sem partido, sem negociação, sem direção, nenhum deles pôde prosperar, para além de desabafos em redes sociais e alguns tumultos na rua ou paralisações pontuais e desprovidas de maior repercussão. 


Vivemos aqui aquilo que já foi chamado de “discurso da estupidez”, que é eficiente para destruir e desmoralizar, mas ineficaz e incompetente para construir e avançar. É estupidez provocar dano a uma pessoa ou grupo sem que haja qualquer benefício concreto aos interesses do agressor. Quando há benefício até entendemos as razões da ação destrutiva (no sentido de danos morais ou materiais), embora não possamos dizer que seja boa ou seja uma conduta ética. 


Esse divórcio entre a pessoa e seus verdadeiros interesses, é uma verdadeira alienação, que faz com que a pessoa possa até falar e agir contra seus próprios interesses concretos. E esse é o resultado “ideológico” evidente dessa deslegitimação da política, que é o afastamento da pessoa da sua própria autenticidade. 

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