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VIOLÊNCIA FECHA UNIDADES DE SAÚDE

Expostos à violência de bandidos e à indignação, manifesta com deselegância e grosseria, de alguns usuários de serviços de saúde, os profissionais vão pedindo transferência ou se afastando de unidades de saúde na periferia de muitas grandes cidades brasileiras. Em meses ou anos as consequencias disso serão sentidas seriamente. Recentemente divulgamos aqui uma notícia de que Igarassú, localidade na periferia de Recife, teve seu posto de saúde desativado porque todos os médicos pediram demissão em decorrência da falta de segurança do trabalho (exposição excessiva à violência). Agora há o relato do jornal on-line Aqui Salvador de que o problema também está se repetindo em várias localidades da periferia da capital baiana. Leia a notícia:

25/05/2008 Violência afasta médicos de postos da periferia   Expostos à ação de bandidos, os profissionais de saúde reclamam ainda da agressividade de pacientes
    Alexandre Lyrio e Camila Vieira

Nos postos da periferia, a histórica relação de confiança entre médico e paciente tem sido mantida sob tensão e violência. A carência de profissionais de saúde nas unidades de bairros pobres tem acirrado os ânimos da população, que se voltou violentamente contra as equipes médicas. A situação chegou a um ponto tão crítico que os profissionais estão se recusando a trabalhar nessas regiões. Em alguns casos, há relatos de médicos que têm sido obrigados a largar o plantão no meio da madrugada por conta dos episódios de agressão física e moral. 



O problema ocorre constantemente na unidade de emergência de Plataforma, gerida pela Secretaria Estadual de Saúde (Sesab), onde há pouco mais de dois meses um médico deixou o plantão e nunca mais voltou ao local de trabalho. O episódio com o especialista de prenome Leonardo foi narrado pela médica do posto, Narcisa Catarina Oliveira, que há 17 anos trabalha em unidades da periferia. Ela conta que, depois de receber uma pancada de um paciente, ele deixou o emprego. Muitas vezes, a médica também já pensou em largar definitivamente a unidade. Há mais ou menos dois meses, depois de ser agredida verbalmente por uma paciente descontrolada, ela prestou queixa por insulto na 5a Delegacia (Periperi).



Hoje, ela atende apenas às terças e sextas-feiras e se recusa a dar plantão nos fins de semana. Segundo ela, as agressões são mais freqüentes nos sábados e domingos.



Tensão - O próprio Sindicato dos Médicos no Estado da Bahia (Sindimed) confirma os diversos casos de violência. “O clima hoje é de tensão entre os profissionais de saúde e os pacientes. Qualquer coisa, é motivo para se chegar às vias de fato”, observa o presidente José Caires.



Já a presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Saúde do Estado (Sindisaúde),  Tereza Deiró, afirma que a violência é alvo de todas as assembléias com a categoria. “Ouvimos um sem-número de denúncias e reclamações em relação à revolta da população e à falta de segurança nos postos de saúde. Não são poucos os casos em que médicos e enfermeiros pedem demissão”, diz.



***



Policiamento não resolve o problema



A segurança dos postos geridos pelo estado é feita por policiais militares. Na unidade de Paltaforma, dois deles ficam numa guarita à frente do posto. Mas, segundo a médica, o serviço prestado é ineficiente. A médica Narcisa Catarina Oliveira  conta que quando é necessário acionar os PMs, eles entram no posto e não fazem nada para inibir o comportamento agressivo dos pacientes. “Canso de chamar, mas eles simplesmente não se impõem como autoridades!”, diz a médica, acrescentando que o batalhão da PM já foi informado da conduta dos policiais.



A especialista também clinica no posto de saúde em Cajazeiras VIII, onde quatro especialistas trabalham a cada plantão de 24 horas. De acordo com ela, a unidade também enfrenta problemas dessa natureza, mas com incidência bem menor. “No subúrbio, a situação é braba. Acho que a carência de médico agrava ainda mais o problema”, afirma.



A situação no posto Adroaldo Albergaria, em Periperi, também é grave. Um pediatra, que não quis se identificar, deixou de trabalhar na unidade por conta das freqüentes ameaças dos pacientes. “Já fui ameaçado de morte várias vezes. A barra lá é pesada. Confesso que tive medo e não agüentei a pressão”, contou o médico.



Mesmo no anonimato, um dos policiais que trabalha na unidade explicou que é preciso ser muito cuidadoso na hora da abordagem ao paciente. “Não estamos tratando de um bandido e sim de um cidadão que perde o controle diante de um atendimento precário. Não é simplesmente levar o sujeito preso e pronto”, observa o policial.



Município - As unidades de saúde do município não têm sequer policiamento. Em vez de soldados da PM, empresas de segurança ficam responsáveis por preservar a estrutura do posto, mas não são obrigadas a defender os funcionários.



“Eles apenas garantem a segurança do patrimônio. A segurança humana fica à mercê da violência”, denuncia o diretor do Sindicato dos Servidores da Prefeitura (Sindiseps), Everaldo Braga, que trabalha como técnico de enfermagem do Centro de Saúde Professor Rodrigo Argolo, em Tancredo Neves.

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