segunda-feira, 28 de abril de 2008

CAOS HOSPITALAR NO RIO DE JANEIRO.

LEIA NA Tribuna da imprensa online. O Hospital Cardoso Fontes, em Jacarepaguá, foi vitimado por intervenção do Ministro José Gomes Temporão, que nomeu um interventor totalmente desvinculado da vida daquele hospital. Os resusltados, como podemos ler no artigo abaixo, têm sido lamentáveis. Há o relato de perseguições contra médicos do hospital. Uma face horrenda da intervenção.


No post (artigo) anterior, falamos da situação na dengue no Rio, que tem provocado apreensão e protestos da população.  Esse artigo vem demonstrar que a Saúde está tomando espaço na imprensa. Depois de tanto tempo relegada ao plano secundário ou às páginas de curiosidades ou de cuidados pessoais e cosméticos.


Ainda sobre o caos no Hospital Cardoso
Fontes


"Nada menos do que 52% da população consideram que a saúde deve ser a primeira ou a segunda prioridade do governo federal (Bruno Galvão dos Santos, doutorando em economia da UFRJ)."


Sinto-me na obrigação de insistir na denúncia do mal-inspirado enxerto que já está comprometendo a prestação de serviços no Cardoso Fontes, o Hospital Geral de Jacarepaguá, no Rio de Janeiro.


Primeiro, porque essa infeliz idéia de oferecer hospitais públicos como moeda de troca por apoios políticos pode estar sendo seguida em outras partes do País. Segundo, porque, se ainda for uma primeira aberração, com certeza terá filhotes até porque as bases parlamentares dos governos, sejam eles quais forem, podem entender que isso é muito normal - "faz parte do jogo democrático e das exigências para a governabilidade".


Os olhos dos políticos inescrupulosos estão mais arregalados ainda com a aprovação pelo Senado da regulamentação da Emenda Constitucional nº 29, que estabelece obrigações de gastos mínimos com a saúde.


Com a emenda, cuja aprovação o governo preferia deixar para depois, o orçamento federal do setor aumentará de R$ 48,5 bilhões para R$ 71,5 bilhões. Desses R$ 23 bilhões adicionais, R$ 5 bilhões deverão ser investidos ainda neste ano.


Pelo projeto aprovado, a União deverá aplicar, anualmente, o mínimo de 10% de suas receitas correntes brutas na saúde. Ao setor, deverão ainda ser destinados outros 12% dos recursos dos estados e do Distrito Federal e 15% dos municípios. Os entes federativos vão ter um prazo até 2011 para se adequarem a esses percentuais. O percentual a ser aplicado pela União em 2008 será de 8,5%, contra 9% em 2009, 9,5% em 2010 e finalmente 10%, em 2011.


Essa conquista aumenta a responsabilidade de todos no trato com a saúde pública. Não há ambiente no País para que um hospital da importância social do Cardoso Fontes, cravado num bairro de 407 mil habitantes, seja entregue a alguém que nunca o conhecera antes e, o que é pior, que não tem qualquer vivência na gestão da saúde pública.


A imposição de um diretor de fora já era por si uma demonstração de desprezo pela comunidade atendida. Ainda que ele fosse um superdotado, a mudança era totalmente contra-indicada, considerando, inclusive, os progressos alcançados pela gestão da dra. Zenilde Fernandes, integrada com a comunidade e num esforço típico de quem teve toda a sua vida profissional envolvida com o hospital.


Como acreditei que o ministro José Gomes Temporão representava o fim da politicagem e da influência nefasta dos sanguessugas no Ministério da Saúde, fiz questão de me dirigir a ele, alertando sobre as conseqüências negativas daquela imposição, no auge da maior crise da saúde pública no Rio de Janeiro.


A inesperada troca, garantida por tropas policiais, tal a indignação da comunidade hospitalar, ocorreu no apagar das luzes de fevereiro. Procurado por usuários do hospital, que estava funcionando bem, dentro dos limites dos seus recursos, escrevi ao ministro Temporão no dia 11 de março.


Dois dias depois, recebia uma resposta do ministro, em que afirmava: "Esclareço que a diretora agora substituída foi nomeada por minha indicação na época da intervenção nos hospitais municipais no RJ em 2005. Considero-a profissional comprometida com o sistema público e nada tenho contra sua atuação à frente da direção do hospital de Jacarepaguá. A mudança realizada nada tem de conotação política. Foi realizada por avaliação do desempenho da unidade e da necessidade de melhorarmos seu desempenho no contexto da rede federal no RJ.


O novo diretor tem formação especializada na área e um bom currículo. Ele também estará sendo avaliado em relação ao seu desempenho e se necessário novas mudanças serão realizadas".


Não poderia ter esperado outra resposta do ministro. Mas percebi logo que alguém estava manipulando os fatos. Se ele disse nada ter contra a atuação da dra. Zenilde Fernandes à frente da direção do hospital de Jacarepaguá, por que substituí-la com pouco mais de dois anos de administração?


Ele se refere a uma avaliação. Quem avaliou? Que avaliação foi essa que teve o sabor amargo de uma punição de toda a corporação, à medida que dispensou a escolha de outro profissional dos seus quadros e, o que é pior, indicou para seu lugar um médico de outro município, totalmente verde em relação ao caos que é mais sentido na cidade do Rio de Janeiro?


Com todo o respeito ao sanitarista José Gomes Temporão, mas dizer que a mudança não teve conotação política é querer tapar o sol com a peneira. Qual o currículo do dr. Raymond Jacoub?


Ora, quando desceu de pára-quedas no hospital que serve a milhares de moradores de Jacarepaguá, megabairro, cuja população é quase o triplo dos 153 mil habitantes de Nilópolis, o dr. Jacoub não podia esperar que essa inesperada troca fosse assimilada docilmente pelos profissionais que trabalham ali há anos.


Mas com a convicção de que tinha "costas quentes", ele saiu muito pior do que a encomenda. Sua primeira atitude foi dispensar a antiga diretora, há mais de 30 anos integrando uma das mais homogêneas e competentes equipes de cirurgia geral, dirigida pelo dr. Ary Pires, um dos apaixonados pelo Cardoso Fontes.


Depois, imobilizou o Comitê de Ações contra a Dengue do hospital, tentando dispensar as médicas Sarah D'ávila e Naiza Cruz, diretamente responsáveis por sua gestão desde 2006. Elas só não foram devolvidas ao município porque o Sindicato dos Médicos obteve vitória judicial contra esse despropósito.


Sem o mínimo de tranqüilidade, esse diretor protagonizou um episódio típico dos piores momentos do regime de exceção. Levou para a delegacia o médico José Gerardo Menezes, presidente do Corpo Clínico, submetendo-o ao pior constrangimento de sua vida, mais da metade dela dedicada à endoscopia do Cardoso Fontes.


Só estranho, a essa altura dos acontecimentos, a omissão dos parlamentares e políticos da área da saúde. O que faz a prefeitável Jandira Feghali, uma das grandes expressões políticas dos profissionais da saúde? E os deputados do Rio de Janeiro? Quem vai chegar perto do ouvido do ministro Temporão para dar um bom conselho a ele?


O Cardoso Fontes está virtualmente parado. E isso tem implicações graves na vida da comunidade de Jacarepaguá e de outros bairros que recorrem aos seus serviços de saúde. Se o ministro Temporão queria uma avaliação da mudança, não precisa mais esperar. Se, assim mesmo, mantiver o diretor imposto, aí, paciência, duas coisas ficarão claras: a mudança realmente foi política e, o que é pior, isso pode estar acontecendo em todo o País.


coluna@pedroporfirio.com

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